(…) Não importa o quanto as pessoas me repreendessem com seus olhares irritadiços, não funcionava. Gritar, berrar, levantar as sobrancelhas… eu não conseguia entender que todas essas coisas queriam dizer algo específico, que havia um significado por trás de cada ação. Eu só levava as coisas no sentido literal.
(…) Eles aconselharam que, já que todo mundo tem cérebros diferentes, nós deveríamos observar o desenrolar das coisas. Alguns fizeram ofertas bem tentadoras, dizendo que eu poderia ter um papel importante na descoberta dos mistérios do cérebro.
‘Amêndoas’ escrito por Won-pyung Sohn
Eu tenho amêndoas em mim.
Assim como você.
Assim como quem você ama e quem odeia.
Mas ninguém consegue senti-las.
Você só sabe que elas existem.
Esta história é, em resumo, sobre um monstro encontrando outro monstro. Um dos monstros sou eu.
Yunjae nasceu com uma condição neurológica chamada alexitimia, ou a incapacidade de identificar e expressar sentimentos, como medo, tristeza, desejo ou raiva. Ele não tem amigos ― as duas estruturas em forma de amêndoas localizadas no fundo de seu cérebro causaram isso ―, mas a mãe e a avó lhe proporcionam uma vida segura e tranquila.
O pequeno apartamento em que moram, acima do sebo da mãe, é decorado com cartazes coloridos com lembretes de quando sorrir, quando agradecer e quando demonstrar preocupação. Então, no seu décimo sexto aniversário, véspera de Natal, tudo muda. Um ato chocante de violência destrói tudo que Yunjae conhece, deixando-o sozinho.
Lutando para lidar com a perda, o garoto se isola no silêncio, até a chegada do problemático colega de escola Gon. Conforme começa a se abrir para novas pessoas, algo se modifica lentamente dentro dele.
Quando suas novas amizades passam a apresentar níveis de complexidade, Yunjae precisará aprender a lidar com um mundo que não compreende e até se colocar em risco para sair de sua zona de conforto.
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#TRECHOS do livro
(…) Ergui os olhos e vi uma mulher de meia-idade me encarando feio, então ela só seguiu seu caminho, passando por mim como os carros lá embaixo, e fui deixado sozinho de novo. As escadas da passarela se abriam em todas as direções. Perdi o rumo. O mundo que via debaixo delas era todo do mesmo tom de cinza gélido, para a esquerda e para a direita. Alguns pombos voaram acima de mim. Eu decidi segui-los.
(…) Um garoto estava caído no chão. Um garoto pequeno, cuja idade eu não conseguia supor, mas sombras pretas o cobriam, ora sim, ora não, repetidamente. Ele estava sendo espancado. Os gri- tos curtos não eram dele, vinham das sombras que o cercavam, parecendo mais gemidos de esforço. Elas o chutavam e cuspiam nele. Depois, descobri que eram só adolescentes, pouco mais ve- lhos que o garoto, mas, naquele momento, as sombras pareciam altas e enormes como adultos.
(…) Como uma princesa de conto de fadas amaldiçoada a não sor- rir, eu não vacilei. E, como um príncipe de alguma terra longín- qua tentando conquistar o coração de sua amada, Mamãe tentou de tudo. Tentou bater palmas, comprou chocalhos coloridos e até fez dancinhas bobas ao som de músicas infantis.
Conheça a autora
Won-pyung Sohn é uma premiada diretora de cinema, roteirista e romancista nascida na Coreia do Sul. Ela se formou em ciências sociais e filosofia na Sogang University e em direção de cinema na Korean Academy of Film Arts. Amêndoas é seu primeiro romance e sua estreia no mundo literário, e ganhou o Prêmio Changbi de Ficção para Jovens Adultos, seguido pelo Prêmio Jeju 4.3 Peace Literary.
Detalhes do Livro
Editora: Rocco; 1ª edição (31 março 2023)
Idioma: Português
Capa comum: 288 páginas
ISBN-10: 6555323280
ISBN-13: 978-6555323283
Idade de leitura: 14 anos e acima
Dimensões: 14 x 2 x 21 cm
Continue sua leitura com o livro ‘Vidas Trans’
Livro escrito por: Amara Moira, João W. Nery, Márcia Rocha
Em VIDAS TRANS, quatro pessoas trans ― Amara Moira, João W. Nery, Márcia Rocha e Tarso Brant ― relatam aos leitores o momento no qual percebem que havia algo diferente, sobre o sentimento de inadequação perante os padrões exigidos, sobre os preconceitos e dores vividos dentro e fora da família, sobre o momento de transição e, enfim, da liberdade sentida por esta decisão.
Em quatro relatos individuais, cada um conta sua história de vida, luta e militância ― constante e diariamente ―, em reafirmar o direito ao nome, ao corpo e à existência plena.
#TRECHOS do livro
(…) A vida e as opiniões aqui registradas são um instrumento poderoso de transformação social e de empoderamento das pessoas trans, principalmente das mais jovens, que destas páginas poderão extrair aprendizados e afetos relevantes para que, oxalá, tenham uma vida menos difícil do que a de nós, que ainda vivemos no país que mais mata mulheres trans e travestis no mundo.
(…) No caso das pessoas trans, isso se torna um processo eficientíssimo de enlouquecimento, a criação para o medo junto a uma vida inteira ouvindo que a compreensão que você faz de si é equivocada, impossível, já que você tem o genital que tem. Mas, se era para ser impossível, por que no meu caso não foi? Por que vim a me entender dessa forma se isso não faz sentido?