(…) “Que entendessem de uma vez por todas que todos os seus temores mais destrutivos advêm da própria imaginação. Tudo aquilo que eles próprios supõem possa lhes acontecer.”
(…) “Se for para ser feliz só até amanhã, não quero. Não precisa nem vir. Prefiro começar a ser triste desde já.“
(…) “Tristes humanos. Sofrem por dentro. Dilaceram-se em pensamentos e pelo temor por eles desencadeados. Sem que, em muitos casos, nada, absolutamente nada em volta justifique tamanha devastação.”
Epaminondas: O gato explicador
Esses últimos, os humanos, com exceções, também adoram viajar, conhecer outros lugares, outras gentes e seus modos peculiares de viver. Tomam-se por arejados, abertos e até mais cultos por conta desse hábito. Talvez por isso usem – para julgar nossas vidas felinas – o critério da extensão territorial ocupada por nossos corpos.
E acabam convencidos de que passar o dia todo confinado não pode valer a pena. Vê-se logo que ainda não aprenderam nada de relevante. E nunca aprenderão. Por mais que alguns deles – os poucos sábios da história humana na Terra – tenham generosamente se sacrificado para explicar, todos os demais da espécie sempre se recusaram a aceitar o óbvio: que o mais precioso da vida já se encontra em cada um deles.
E que o sucesso dessa busca requer preparo. Exercício rigoroso de pensamento. E recato. Fica fácil de entender por que não saem da rua. Passeiam, viajam e se divertem. Na verdade, permanecem em fuga. Não suportam a verdade que grita em suas almas. Preferem chafurdar no pântano da ignorância – entretida pelas sombras da falsidade e das mentiras – a resistir, em resiliência, aos percalços e obstáculos que todo caminho de luz costuma impor a quem sempre viveu na sombra.
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(…) Por mais que nós, gatos, vivamos em ataraxia, isto é, quase imperturbáveis, esse quase é por conta deles. Reconheço que tudo seria muito diferente se, no lugar de humanos, eu tivesse optado, como sugerido na loja, por uma paca ou uma lontra para me fazer companhia.
(…) Humanos podem direcionar suas mentes para atividades escolhidas pela vontade. Eu os observo com atenção. Por mais atormentados que estejam, conseguem dirigir seus esforços de inteligência para essa ou aquela tarefa.
(…) Tristes humanos. Sofrem por dentro. Dilaceram-se em pensamentos e pelo temor por eles desencadeados. Sem que, em muitos casos, nada, absolutamente nada em volta justifique tamanha devastação.
(…) Alguns dirão que ninguém sente medo porque quer. E, talvez, tenham alguma razão. Fica difícil para mim, que só os observo de fora, saber exatamente até onde poderiam lutar contra todos esses pensamentos tão destrutivos.
(…) E o comportamento desses bichinhos humanos que tenho dentro de casa me interessa muito. Hoje posso garantir que entre seus medos e suas esperanças há tudo, menos equilíbrio. Essa assimetria fica estampada em suas fisionomias crispadas, tensas e desfiguradas, quase o tempo todo.
Conheça o Autor
Clóvis de Barros Filho (por Epaminondas): Seria de bom tom salvar as aparências. Eu sei bem disso. No mundo humano da hipocrisia não pegaria nada bem um arroubo felino de sinceridade. Conhecendo um pouco como pensam muitos homens e mulheres, todo alinhamento dos reais sentimentos e pensamentos às suas manifestações seria entendido como, no mínimo, muito deselegante.
E eu lhes asseguro de que estaria bem-disposto a jogar esse jogo. O cinismo do senso comum. Em nome das boas relações diplomáticas entre os agentes de nossas espécies. Mas, no caso específico do humano Clóvis, com quem convivo, não será possível. Há uma responsabilidade com o universo a honrar. Basta dizer que o meu amigo trabalha de segunda a domingo falando de felicidade para os da sua espécie.
E é relativamente bem-sucedido no que faz. Não são poucos os que admitem a influência positiva de suas palavras. Mas quem o conhece de perto não consegue imaginar todas as dores que o acompanham. Claro que há outros humanos que sofrem. Muito mais, talvez. Mas esses eu não conheço. Nada posso falar a respeito. Pronto. Falei.